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Como Estudos de Inteligência Tecnológica podem impactar a inovação farmacêutica

Por: Caio Nascimento

13 de Abril de 2023

Desenvolver novos medicamentos nunca foi tão complexo e custoso. O percentual médio da receita líquida investido em P&D por empresas farmacêuticas inovadoras cresceu de cerca de 11%, no início dos anos 1980, para pouco mais de 20%, em 2021[1].

Contudo, apesar do crescimento dos investimentos em inovação, o número de medicamentos contendo novas entidades moleculares lançados por ano se manteve estável, sugerindo uma queda na produtividade do processo de P&D das maiores e mais inovadoras empresas do setor[2]. Em um cenário de tamanha complexidade, complementar o conhecimento produzido internamente com informações e soluções externas pode favorecer a eficiência e produtividade do P&D.

Posto que patentes são o principal instrumento de apropriação do conhecimento gerado no P&D farmacêutico, acessar o conhecimento produzido por terceiros é relativamente simples com análises de documentos patentários, quando aplicável, publicações acadêmicas. Neste sentido, Estudos de Inteligência Tecnológica se apresentam como ferramentas extremamente versáteis, que permitem identificar oportunidades e ameaças tecnológicas que possam favorecer ou prejudicar um negócio ou segmento de mercado.

Estudos de Inteligência Tecnológica consistem na coleta e avaliação sistemática de informações, majoritariamente estruturadas, disponíveis publicamente. Podem ser configurados para responder a uma miríade de questões que refletem desafios de diversos níveis de uma empresa – do departamento de pesquisa ao C-level, passando pelos setores de marketing e vendas. De modo geral, os assuntos investigados neste tipo de estudo podem ser reunidos em três grandes grupos que, aqui serão designados didaticamente por “análise de soluções técnicas”, “avaliação de oportunidades e ameaças tecnológicas” e “monitoramento de competidores”.

A busca por soluções técnicas geralmente parte de desafios específicos enfrentados na rotina do desenvolvimento de um novo medicamento. Por exemplo, “como modificar uma molécula para introduzir uma característica farmacocinética de interesse?”, “como formular um composto para favorecer um perfil de liberação ideal?” ou “qual a natureza química de compostos que melhor atuam sobre um alvo farmacológico”. É possível configurar a análise tecnológica para identificar documentos patentários associados a problemas semelhantes e deles extrair as soluções técnicas aplicadas, sugerindo um conjunto bem delimitado de hipóteses a serem testadas experimentalmente.

Sob a perspectiva da avaliação de oportunidades, é possível investigar, por exemplo, em quais mercados uma determinada tecnologia (por exemplo, um ingrediente ativo) está protegida por patente e em quais estaria livre para exploração econômica. Outro tema potencialmente interessante seria o levantamento de tecnologias complementares para aquisição (por exemplo, um sistema de delivery que adicione valor a um fármaco desenvolvido in-house). Por outro lado, é factível ajustar a análise para investigar tecnologias que possam disruptar um segmento inteiro e determinar quais são os players potencialmente mais bem posicionados para aproveitar a nova trajetória tecnológica.

Finalmente, a análise competitiva é um enquadramento do Estudo de Inteligência Tecnológica que permite elucidar o comportamento patentário de competidores. A análise do padrão geoestratégico de proteção dos portfólios tecnológicos permite alcançar, com boa sensibilidade, os principais mercados de interesse de competidores em geral ou de um grupo de empresas específico.

É possível identificar também quais os competidores ativos em uma determinada área terapêutica, classe farmacológica ou, ainda, quais as naturezas dos fármacos sendo explorados (e.g. compostos de baixo peso molecular ou biológicos). Essas informações podem ajudar a iluminar, por exemplo, áreas em que pode se estar perdendo espaço ou nas quais há alguma vantagem competitiva.

Em suma, Estudos de Inteligência Tecnológica se mostram como ferramentas extremamente flexíveis, que podem ser aplicadas para endereçar questionamentos tanto da rotina de companhias farmacêuticas inovadoras – altamente intensivas em P&D – quanto de empresas produtoras de medicamentos genéricos – para as quais as oportunidades de cópia determinam o sucesso do negócio.


[1] https://phrma.org/-/media/Project/PhRMA/PhRMA-Org/PhRMA-Refresh/Report-PDFs/P-R/PhRMA_membership-survey_2022_final.pdf

[2] SCHUHMACHER, Alexander et al. R&D efficiency of leading pharmaceutical companies–A 20-year analysis. Drug discovery today, v. 26, n. 8, p. 1784-1789, 2021.

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